15 de julho de 2015

Arte inGame: Shining Force III - Scenario 1 - Abertura

Olá pessoal!
Hoje, mais uma vez, não tive como evitar esbarrar na questão da música, mas gostaria de falar não dela isolada, mas em relação com um vídeo.

A abertura de Shining Force III é uma daquelas raras em que eu simplesmente não consigo cortar uma vez que tenha começado. E isso mesmo nas várias vezes em que reiniciava o game para voltar após acontecer algo ruim, ou eu ter tomado alguma decisão estúpida (algo muito comum em jogos de estratégia, convenhamos). Isso ainda é tão verdadeiro e forte para mim que, uma vez que tenha visto a abertura do primeiro cenário, sinto-me impelido a ver a do segundo, a do terceiro e, finalmente, fico na ânsia de colocar os três para rodar de novo e jogá-los do começo ao fim.

Mas agora estou fugindo um pouco do foco do tema desta postagem. Falaremos somente da abertura do primeiro cenário de Shining Force III e deixaremos os seguintes para alguma outra oportunidade (que certamente virá, sem sombra de dúvida).

Aproveitem o vídeo primeiro e, depois, falaremos dele com calma.





Ele já começa de um modo que acho instigante e que já dá o tom do que nos espera. Quando aparece escrito o "Sonic & Camelot present", ouvimos uma primeira batida que, junto com o segundo toque apresentado com o nome do jogo, parece indicar um certo ritmo. Chama muito a atenção o efeito de fad out e fade in desses dois pequenos textos junto com o som. O ritmo que ele nos mostra parece seguir os movimentos das batidas de um coração esperando o que vira a seguir, ou passos lentos rumo a algum lugar. Para mim esses dois sons são como os passos que o ator dá ainda no corredor dos bastidores antes de entrar no momento exato e preciso da sua deixa: uma mescla um tanto paradoxal de expectativa com confiança.



Tanto que essa expectativa prossegue com um pequeno rumor que culmina numa explosão que inicia a cena (e sua música) propriamente dita. Nessa explosão vemos uma cidade fortificada em chamas, uma torre caindo e, instantes depois, vemos o seu algoz, caminhando lentamente em meio a ela. Mas ele não está fazendo tudo o que deseja sem resistência: alguém lhe aponta a espada e está preparado para, mesmo que morra, permanecer ali para impedi-lo. As engrenagens e vapores em funcionamento que surgem a seguir novamente remontam à questão do ritmo que falei antes, mas de modo claramente belicista e com relação àquele Colosso artificialmente construído contra o qual nosso herói se coloca no caminho.

Synbios (sim, este é o nome dele) correndo em alguma parte restante do muro destruído acompanha a reapresentação de alguns compassos que ouvimos ao início da faixa e retoma o tema não mais "em meio às coisas" e da perspectiva dos destruidores, mas a dele mesmo e sua caminhada toda até chegar aquele ponto.


Não é à toa que essa sua corrida é interrompida pela imagem do escudo da República e, em seguida, do escudo do Império. Ele é filho de um dos representantes da República que se separou do Império graças ao esforço de alguns nobres que estavam descontentes com a monarquia. E essa imagem demonstra justamente quem Synbios encontra em seu caminho rumo à guarda daquela cidade que vemos sendo destruída logo ao começo.



Em seguida temos uma pequena apresentação de outros heróis em suas lutas. Primeiro vemos Dantares, braço direito de Synbios, que, com seu olhar determinado, enfrenta um pequeno dragão alado protegendo-se com seu escudo. Quando o fogo de seu adversário atinge seu escudo, a música muda de um jeito belíssimo e ganha um tom ligeiramente mais melodioso e envolvente que o anterior (mais forte e firme). E essa alteração nos prepara para a cena que vem a seguir: Masquirin conjurando uma magia, calma, silenciosamente e de olhos fechados. Tranquila e com um leve sorriso no rosto, não abre os olhos com o grito do minotauro prestes a atacá-la, mas o faz tão logo termina a conjuração, sem mudar em nada a paz que seu rosto e a música que a acompanha denuncia.


Daí somos novamente levados à jornada apressada de Synbios. Em um campo aberto, o sol que iluminava seu caminho é coberto por dragões que vão rumo ao mesmo lugar ao qual ele se dirige. Isso tanto o preocupa que para por um instante para vê-los. E, ao final dessa cena, a música ganha uma renovada força com uma estátua (que sabemos depois ser Bulzome) "abrindo" seus olhos em seu templo e soltando através dele uma espécie de raio ou algo similar.

Novamente vemos as engrenagens que parecem estar movendo todos os inimigos contra os quais o pequeno exército da República se levanta, mas Synbios, firme, resiste àquele ataque com a sua própria espada. A explosão que se segue parece que o destruiria, mas as runas e a luz branca que o rodeia em seguida indicam que ele foi de algum modo salvo.


E quando a luz do sol brilha por entre as nuvens que o obscureciam (tal qual os dragões anteriormente), a música muda novamente e se torna mais plácida e tranquila e vemos brevemente o rosto daquele que pode impedir a derrota de nosso herói: um jovem garoto (que sabemos depois ser Galsia, um Innovator) que reza por ele.



Tenho até a impressão de que a aparição (ou a própria existência de Galsia), foi o que desencadeou o início do funcionamento das engrenagens que vemos já a todo vapor anteriormente. A máquina de combate e destruição guiada e sustentada por tais engrenagens, o Colosso, volta a aparecer levando, mais uma vez, a música a retomar sua potência. Por isso que vemos em seguida o inimigo gigantesco em questão, mas também uma nave em formato de cogumelo ao seu lado (portadora da destruição assim como ele).


E o vídeo termina nesse clima tenso. O Colosso dirigi-se a Synbios que agora está frente a frente com outro combatente: Medion, o mais jovem príncipe do Império. Naquele momento, os olhos de Synbios não estão voltados para o colosso, mas para o seu adversário. A câmera gira e termina focalizando o rosto do general da República que muda seu olhar para algo mais determinado e empunha sua espada com mais firmeza diante de si indicando claramente que a história que será ali contada será em sua perspectiva e levando em conta os desafios que encontrou.

Perceberam as diferentes nuances no vídeo e que a música acompanha belamente? As mudanças de perspectivas, as referências à jornada do Synbios como um todo... Tudo isso nos prepara para aquilo que experimentaremos a seguir a partir do momento em que iniciarmos o game. Como toda boa hermenêutica, esse pequeno trecho de menos de dois minutos faz sentido com a totalidade do primeiro cenário e, pasmem, também com todos os outros cenários.


O espírito que essa abertura passa de determinação, certa pressa e tranquilidade mescladas, planos de más intenções arquitetados como relógios funcionando metódica e meticulosamente para controlar e mover o mundo a seu bel prazer, caminhos obscurecidos pelas forças malignas que querem destruir nossos lares e os lugares que estimamos... Tudo isso passa por todos os cenários e pelos heróis de cada um deles.



Além disso, a referência a Bulzome, Galsia e àquela nave em formato de cogumelo só podem ser plenamente entendidas a partir do segundo cenário (algumas delas completamente apenas no terceiro): é capaz que terminem o primeiro jogo sem entender completamente a abertura. Mas isso que é interessante: mesmo assim é possível ser envolvido por esse mundo todo que o primeiro cenário nos propõe e vivê-lo à nossa maneira, como jogadores.


Essa abertura é belíssima e quando sabemos que essa mesma música toca na batalha final do primeiro cenário levemente modificada, podemos sentir até um arrepio ao lembrarmos o embate final de Synbios contra o Colosso. E quando sabemos que esse mesmo arranjo novo aparece igualmente em uma das últimas batalhas do terceiro cenário a torna ainda mais significativa.

O herói de cada cenário recebe um apelido na abertura do primeiro jogo. Synbios é o tigre e essa música refeita para sua última batalha é chamada de "Tiger! Raise the cry of Time!". Ou seja: "Tigre! Erga o clamor do Tempo!". A pressa faz parte da aventura do Synbios. O tempo todo ele está correndo para voltar à sua casa juntamente com todos os seus companheiros, não para descansar, mas para lutar e protegê-la. E sua abertura nos passa justamente isso: mesmo com momentos mais tranquilos e sossegados, o caminho é sempre apressado e sempre um retorno. Synbios é um guerreiro do tempo: é contra ele, contra o relógio (cheio de engrenagens e na forma de exércitos, monstros e máquinas gigantescas) que colocaram para impedi-lo de prosseguir que ele luta como um tigre: veloz e incansável.

É isso por hoje! Até a próxima postagem!

8 comentários:

  1. Interessante dessa abertura do Shining Force 3, que por sinal é a primeira vez que assisto, é que ela tem uma musica que me faz lembrar Star Ocean e Profile, e olhando as cenas da abertura, por alguma razão, me recordei de Beyond the Beyond de Playstation I.
    Engraçado você descrever as cenas dessa forma porque muita gente que assiste percebe mas não se dá conta desses detalhes.
    Excelente!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu chefe! hahahaha Tem muito detalhe mesmo. E é de se lembrar que, em geral, a abertura é a última coisa a ser feita num jogo porque, afinal, ela tenta "vender" o jogo todo em pouco tempo. Mais ou menos como a sinopse de um livro, ou o trailer de um filme. Há casos em que ela serve somente de introdução, mas em Shining Force III não é o caso. :-) Outro que vai nessa linha é a abertura de Lunar: Silver Star para Sega CD (da qual quero falar em algum momento também por aqui).

      Excluir
  2. Minha saga favorita de RPG estratégia. Os 3 cenários foram maravilhosos, o Shining The Holy Ark que é o início da história dos "Vandals" também é muito bom. O Shining Force III Premium Disc deu para matar a saudade dos antigos chefões dos "Shinings" do Mega Drive e Game Gear.. hum video que faz nos refletir com hum pequenos detalhes que pra muitos passa ,despercebidos,parabéns mano

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu gosto mais ainda do Shining the Holy Ark por ele ser mais "tranquilo" e rápido de jogar que o Shining Force III inteiro. Curto muito ele também! E valeu pela força! :-D

      Excluir
  3. Que belo jogo viu tive a oportunidade de jogar um pouco de Shining Force Cenário 1 no Saturno a muito tempo viu e curti pra caramba pega que o videogame não era meu fiquei só na vontade de tentar jogar um dia de novo mas lendo esse seu post vou tentar baixar ele pra tentar emular no emulador quem sabe não rode né.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tente jogar sim cara! Vale muito a pena! O primeiro cenário demora um pouco para engrenar, mas depois ele passa voando. ^_^

      Excluir
  4. Ele roda sem problemas no SSF. Só tive problemas no Scenario 3 com a summon "Proserpina", onde ela congelava a tela(mas o jogo continuava rodando normalmente), onde era obrigado a salvar e resetar o jogo para voltar a jogar novamente.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A equipe de tradução tradução não-oficial informava que o terceiro cenário costuma travar em uma batalha lá (tinha que jogar um trechinho em japonês para passar de boa). Nem sei se consertaram isso ou não... Mas essa travada quando invoca a Proserpina nunca tinha ouvido falar....

      Excluir