Uma coisa bastante interessante sobre músicas que aparecem juntamente com alguma outra arte é que nem sempre elas nos agradam quando apresentadas isoladamente. Ou seja, só fazem pleno sentido quando surgem associadas com alguma outra coisa.
Fora dos âmbitos dos videogames, lembro do primeiro caso em que me dei conta deste fenômeno: o primeiro trailer do Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel. Recebi um CD-ROM em casa de alguma empresa provedora de acesso à internet com wallpapers e o trailer desse filme (antes do YouTube existir, lembram-se?). A música em questão está no segundo minuto do vídeo abaixo juntamente com as cenas que ajuda a emoldurar.
Claro que isso é proposital. Se contratam um compositor para criar músicas para determinadas cenas ou personagens, é claro que ela será criada de acordo com aquilo que lhe é apresentado; seja na sua forma final, ou em esboço. Não é muito difícil bsucar músicas em jogos de videogame que cumprem bem seu papel de tornar ainda mais bacana alguma parte de nossa experiência.
As trilhas sonoras de games sempre fizeram parte das minhas jogatinas e também as apreciava fora dos seus jogos, mas gostaria de exemplificar com aquele em que percebi claramente que suas músicas eram independentes e serviam apenas pra formar o ambiente sem atrapalhar demais suas ações e conversas enquanto se jogava. Esse jogo é o Phantasy Star Online.
Longe de mim dizer que a trilha sonora de Phantasy Star Online é ruim! Eu adoro esse estilo eletrônico similar ao que era produzido nos anos 1980 e início dos anos 1990. A questão é que a música não era extremamente relevante ao longo do jogo. Principalmente porque jogava com amigos e ficávamos tão entretidos em nossas conversas e com as missões para cumprir que ela não nos importava muito. Ainda assim esta é uma das trilhas sonoras que mais gosto de escutar ao longo dia (seja para trabalhar, estudar, ou relaxar): as canções desse jogo extrapolam aquilo para que foram compostas.
E, para ficarmos na mesma série, Phantasy Star Universe tem boas músicas também, mas quase todas apenas cumprem sua função correta e claramente dentro do jogo. Ao contrário do que vemos no Phanatsy Star Online, suas músicas em geral apenas são agradáveis às situações do jogo e não para ouvir fora dele (com exceções, claro).
Assim, acredito que tenha ficado claro que algumas músicas para jogos de videogame acabam saindo de suas fronteiras e podem ser apreciadas sem qualquer relação com seu contexto de origem. Ou seja, em muitos casos, nem mesmo as memórias que porventura tenhamos do jogo influenciam na nossa apreciação estética musical dessas faixas. Elas são peças atraentes nelas mesmas, simplesmente.
Talvez seja um pouco como ouvir um pedaço de alguma ópera como o Barbeiro de Sevilha e gostar do trecho sem entender e ver o que de fato acontece em cena. Claro que compreender essa parte com seu todo seria ainda mais enriquecedor, mas não é isso que quero discutir hoje com vocês.
Ainda falando de Phantasy Star, a faixa de introdução de Phantasy Star III é uma daquelas músicas que muitas pessoas que sequer experimentaram o jogo conhecem e gostam. Não é à toa que existem diversas versões dessa música por diversos grupos e artistas por aí. Talvez seja até mesmo a música mais referenciada de toda a série por aí afora.
Poderia dizer que seria curioso considerando que esse jogo é ostracizado pela maioria dos jogadores, mas isso seria uma falácia. Na Europa e nos Estados Unidos o jogo Phantasy Star III fez um sucesso considerável em sua época (principalmente no Velho Mundo). Como sua bela trilha sonora é um de seus pontos mais fortes, com certeza os primeiros que o jogaram tiveram importante papel em "passar adiante" suas músicas às novas gerações.
O que quero destacar aqui são as múltiplas possibilidades de uma música ser experimentada em um jogo de videogame. Algumas delas resistem à transformação de "elemento de jogo" a "objeto estético" e são aproveitadas fora da situação de jogo. E, dentre estas, algumas não dependem de lembranças relacionadas a situações do jogo para nos envolverem. Isso significa dizer que existem músicas com boa qualidade no jogo, com o jogo e fora do jogo.
Se considerarmos ainda que toda experiência estética é lúdica por definição, alguns games nos dão a possibilidade de provarmos de outros jogos dentro dele mesmo quando paramos para apreciar suas músicas (seja enquanto jogamos, ou totalmente fora dele).
É isso que queria trazer hoje para vocês!
Sabe que frequentemente eu me pego pensando essas coisas e nunca tive a idéia de explanar sobre isso tanto dentro do âmbito cinematográfico quanto Gamístico?
ResponderExcluirExcelente texto, Thiago, como sempre!
Parabéns!
Exatamente.As músicas de games ora possuem sentido só dentro do contexto do jogo ou ás vezes elas extrapolam os limites do game.Isso acontece bastante.Mas como música é gosto pessoal,é arte.É impossível classificar quais músicas são pérolas isoladas dentro de seus jogos e quais são livres para uso "solo",fora do seu contexto.Eu,por exemplo,gosto muito da OST de Batman do NES.Pra mim aquelas músicas poderiam ser apenas músicas de uma banda de eletrônica qualquer,sem a necessidade do jogo em si.
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