9 de setembro de 2015

Arte inGame: Scars of Time - Chrono Cross

Olá pessoal!

Lembram-se do comentário que fiz em minha última postagem acerca de músicas que mesmo tiradas de seu contexto no game continuam excelentes obras? Pois é exatamente um exemplo disso que escolhi tratar hoje!


Acredito que muitos de vocês conheçam a belíssima abertura de Chrono Cross que coloquei logo acima. Suas imagens são cheias de sentido e resumem de fato boa parte de todos os dramas e encontros que experimentamos ao longo de todo o jogo. E tudo isso acompanhado de uma linda canção cujo subtítulo pode ser traduzido por "cicatrizes do tempo".

O nome da faixa completo em japonês é: "Chrono Cross ~tokinokizuato~" e realmente significa "Scars of Time" como marca a versão em inglês da trilha sonora.

Parece-me evidente que ela foi composta para exprimir as marcas que foram deixadas no fluxo temporal devido às mudanças todas que efetuamos no jogo que o precede (Chrono Trigger) e, claro, as cicatrizes que deixou no coração de muitos (senão todos os) personagens ao longo do tempo. E é algo relacionado a esse último ponto que quero falar com um pouco mais de detalhes, embora não busque enfatizar as pessoas que encontramos no jogo, mas nós mesmos fora dele.

Disse logo ao início que se retirarmos esta música de seu game ela continua boa. Portanto, quero abordar seu sentido para além de Chrono Cross e como que ela se mostra sem levarmos em conta esse contexto. Dentre as diversas possibilidades, optei por usar uma descrição fundada na imaginação. Acredito que será adequada para o exercício que proponho aqui.


O início mais tranquilo da faixa passa uma sensação justamente de calmaria. É possível se imaginar sentado sob uma sombra, despreocupado e ouvindo as ondas do mar quebrando na praia. Sempre me pego fechando os olhos nesse instante e quase posso sentir uma brisa a bater-me no rosto docemente.

Quando chegamos próximo ao final do primeiro minuto, a música fica um pouco mais agitada e nosso coração parece acompanhar o novo ritmo. Utilizando a mesma imagem que apresentei no parágrafo anterior, é como se algo nos incentivasse a levantar de onde estávamos e nos pusesse a caminhar. Não uma caminhada cheia de medo e recheada de fuga, mas um andar ligeiramente ansioso e cheio de incerteza do que poderá nos acontecer em seguida.

Em torno do 1:40, ela adquire uma elevação quase sublime que cresce durante dez segundos até atingir um novo momento de tranquilidade. Neste instante, é como se essa caminhada ansiosa fosse interrompida por um momento de contemplação, meditação, esperança e retomada de fôlego.

Mas isso não dura muito tempo e em torno dos 2:05 já voltamos uma vez mais a correr. E assim continuamos até que atingimos um fim abrupto e sem qualquer indicação clara de fruição de qualquer descanso que seja após alcançarmos esse termo, essa meta (seja ela qual for). É um término em meio ao "som e fúria", ou como uma sinfonia que termine com o som de um canhão.

Essa música é uma das minhas favoritas quando levo em conta toda a obra de seu compositor Yasunori Mitsuda porque ela descreve duas coisas interessantes: momentos de decisão em que uma escolha vive e, consequentemente, todas as outras que morrem.

O primeiro momento da "Scars of Time" parece deixar claro uma experiência mais amena em que nada nos angustia, mas que serve de espera para o movimento já que ela não dura para sempre. Tanto é que logo em seguida provamos daquele aperto no coração e aquela necessidade de escolher, de pensar, de correr e de fazer alguma coisa.

Contudo, em meio a essa angústia, podemos parar um instante para reavaliar tudo e decidir para onde iremos. É preciso que respiremos um pouco: ficar correndo feito louco sem pensar para o lugar que desejamos ir não nos adianta de nada. Após decidirmos o que queremos, corremos rumo à meta que termina com sua plenitude alcançada na qual uma nova música deve se iniciar. Se ela será calma, agitada, ou desesperadora, não podemos saber de antemão, mas fomos nós que a escolhemos de qualquer maneira.

É possível até mesmo pensar esse final súbito como a nossa própria morte. Não apenas e necessariamente a nossa morte física, mas também as "pequenas mortes" que sofremos quando "matamos" um tipo de pessoa que éramos e nos transformamos em outra pessoa "diferente".
 
E, justamente por poder descrever isso tudo que escolhi essa faixa para começar a primeira apresentação musical da banda que ilustra meu segundo livro de ficção: Jehanne.

Nesta obra, três pessoas passam por vidas completamente diferentes e cheias de dificuldades e desafios próprios. Mas a música serviu para fazê-los enxergar que as suas existências não precisavam ser sempre do mesmo jeito. A música os transformou e essa canção que escolhi para compartilhar com vocês hoje descreve muito claramente esse salto qualitativo para um modo de ser diferente daquele que eram antes.

Se a música é capaz de transformar as vidas de Amélie, David, Johann e a de qualquer pessoa (a minha inclusive), "Scars of Time" nos fornece uma descrição musical de como essa mudança pode acontecer. É uma música inspiradora, sem sombra de dúvida!
Para quem estiver interessado em saber um pouco mais desse meu segundo livro, pode seguir este link com algumas pequenas informações sobre ele e os meios de adquiri-lo. Gostaria de adiantar que mais músicas de videogames aparecem nele além desta aqui, mas falarei a respeito por aqui mesmo em alguma outra oportunidade.

É isso por hoje! Até a próxima postagem!

2 comentários:

  1. Gostei muito da sua narração da música. Dá para ver a cena na cabeça enquanto lê-se o texto. Muito bom! Eu que gosto de uma boa leitura e me sinto muito mais imerso na história lendo um livro que assistindo um filme em 3D achei bem interessante. Dá para notar o quanto a música te leva a uma experiência introspectiva e ao mesmo tempo tenta te situar no mundo a sua volta.

    Bem bacana!

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    1. Que bom que gostou cara! :-) Todas as minhas análises estéticas partem da experiência mesmo e da sua descrição. ^_^ Valeu mesmo! :-D

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